CAO Cidadania participa de reunião sobre regularização de áreas quilombolas - CAOs
CAO Cidadania participa de reunião sobre regularização de áreas quilombolas
Na ocasião, representantes quilombolas destacaram a importância da efetivação dos processos de titulação da terra para a luta do povo negro por direitos, além do reconhecimento e reparação das históricas violações de direitos a que foram submetidos. Segundo eles, os processos são longos, complexos e burocráticos e, na prática, representam obstáculos intransponíveis para a grande maioria das comunidades. Afirmaram que a ausência de estrutura e orçamento do INCRA, responsável pela realização dos Relatórios Técnicos de Identificação e Delimitação (RTID), peça fundamental para o processo de titularização, acarreta em processos sem conclusão por mais de 20 anos.
Foi ainda ressaltado que, em meio à burocracia para o reconhecimento do direito à terra das comunidades, estas se encontram expostas a ameaças e violência por parte de vários atores que se colocam contrários à demarcação e titularização, sendo constante as perseguições às lideranças quilombolas, como o caso recente da morte de Mãe Bernadete, na Bahia, em agosto passado.
Do grande contingente de comunidades pernambucanas, apenas 14 estão em processo de titularização, sendo que somente duas, Castainho (em Garanhuns) e Conceição da Crioulas (em Salgueiro), estão com decreto, mesmo que parcial, de titularização de suas áreas.
O Coordenador do CAO Cidadania, Promotor de Justiça Fabiano Pessoa, frisou a importância da titularização das terras quilombolas como elemento fundamental do reconhecimento de uma identidade historicamente apagada do povo negro, que resistiu, por séculos, às reiteradas violações de direitos fundamentais a que foi submetido.
“Em Pernambuco, de acordo com os dados do último Censo do IBGE, tem-se uma população de 78.827 pessoas autodeclaradas quilombolas, divididas em 113 municípios, em todo o Estado. Deste montante, apenas 8,59%, ou seja, 6.769 pessoas, residem em alguma área oficialmente delimitada, enquanto as demais (72.058) vivem em áreas que ainda não passaram por quaisquer das etapas dos processos de titulação”, relatou Fabiano Pessoa.
“A não promoção dos processos de reconhecimento e titulação das terras quilombolas, implicam, na prática, em uma aguda ampliação das condições de vulnerabilidade desta população que, ao não ser identificada e formalmente reconhecida, permanece à margem das políticas públicas voltadas para as reparações necessárias do povo negro quilombola”, concluiu ele.
Ao final, o representante do MPPE conclamou a todos os presentes, e em especial aos representantes do INCRA, que promovessem um efetivo planejamento de recursos orçamentários e de pessoal para a realização das etapas dos processos de titularização, de modo a garantir efetividade aos direitos constitucionalmente garantidos ao povo quilombola, conforme previsto no art. 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), que reconhece aos remanescentes das comunidades quilombolas, o direito às terras tradicionalmente ocupadas.
Entre os participantes da reunião estavam o Superintende Regional do INCRA no Estado, Givaldo Cavalcante; o Diretor Nacional de Governança Fundiária do INCRA, João Pedro Gonçalves da Costa; Maria José de Fátima, da Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas de Pernambuco e liderança da comunidade Onze Negras, do Cabo de Santo Agostinho; José Carlos Lopes, Coordenador Estadual dos Quilombos de Pernambuco e liderança histórica da Comunidade de Castainho, em Garanhuns; e Marinho da Estiva, Coordenador Estadual da Articulação de Quilombos de Pernambuco e da Comunidade Quilombola da Estiva, em Garanhuns.
Ainda presentes representantes de outro órgãos ligados à questão agrária e fundiária em Pernambuco, como o Instituto de Terras e Reforma Agrária do Estado de Pernambuco (ITERPE), do Ministério do Desenvolvimento Agrário, assim como os Deputados Estaduais José Patriota e Doriel Barros.
Mais Notícias
20/02/2025
A pedido do MPPE, Justiça determina que a Compesa assegure padrões de potabilidade da água - 20/02/2025
Contaminações foram identificadas tanto na saída da estação de tratamento quanto na rede de distribuição na área urbana
20/02/2025 - Em decisão proferida na última terça-feira (19), a 1ª Vara da Comarca de Paudalho acolheu parcialmente os pedidos do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) determinou que a Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) forneça água dentro dos padrões de potabilidade em toda sua rede de abastecimento no município. A Compesa tem um prazo de 15 dias para apresentar recurso à decisão.
A sentença foi conferida no âmbito da Ação Civil Pública nº 198-37.2018.8.17.3080, ajuizada pela Promotoria de Justiça de Paudalho após a constatação da presença de coliformes totais e Escherichia coli na água fornecida à população e inconsistências na quantidade de cloro na água.
Conforme documentos da Secretaria Estadual de Saúde, as contaminações foram identificadas tanto na saída da estação de tratamento quanto na rede de distribuição na área urbana.
"Não é crível que a população esteja consumindo água contaminada diante do total desprezo da demandada em cumprir o que determina a legislação, sendo necessário que a prestação do serviço público de fornecimento de água seja feita de modo a salvaguardar a saúde pública e dos próprios consumidores", alertou o Promotor de Justiça Carlos Eduardo Seabra, no texto da ação.
Além do fornecimento imediato de água própria para consumo dos cidadãos, a Compesa também deverá adotar ações corretivas imediatas sempre que forem identificadas amostras positivas para coliformes totais.
Nessas circunstâncias, a empresa fica obrigada a realizar novas coletas em dias sucessivos até obter resultados satisfatórios, incluindo uma recoleta de água no ponto de contaminação e duas amostras extras, em pontos de captação antes e depois de onde foi identificada a irregularidade.
25/02/2025
Em nova reunião, MPPE, órgãos ambientais e movimentos sociais propõem comissão para analisar irregularidades fundiárias e debatem ações emergenciais para população afetada - 25/02/2025
Foi acertada a criação de uma comissão interinstitucional para acompanhar denúncias de ilegalidades em contratos de compra e venda de terras para empreendimentos de energia renovável
25/02/2025 - Em continuidade às providências da semana passada, quando movimentos sociais ocuparam a sede de Agência de Desenvolvimento de Pernambuco (Adepe) para denunciar os efeitos negativos dos geradores eólicos dos empreendimentos Ventos de São Clemente e Ventos de Santa Brígida, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) participou de nova reunião na manhã desta terça-feira (25), desta vez na sede da Agência Estadual de Meio Ambiente.
Desta vez, foram acertados a criação de uma comissão interinstitucional para acompanhar denúncias de ilegalidades em contratos de compra e venda de terras para empreendimentos de energia renovável; a proposição de uma solução consensual para o caso do Ventos de Santa Brígida por meio da elaboração de um termo de ajustamento de conduta; e a reabertura, com uma chamada para novos representantes da sociedade, do grupo de trabalho para discutir a regulamentação do licenciamento ambiental dos parques de geração de energia renovável.
“Nas discussões com as populações afetadas, é muito comum recebermos essa informação de que os contratos possuem cláusulas abusivas, o que na verdade é a gênese de todos os problemas gerados pela implantação dos geradores eólicos. Então a comissão contará com o trabalho integrado de várias entidades, como o MPPE, Defensoria Pública, Governo do Estado e órgãos ambientais estaduais e nacionais”, ressaltou a coordenadora do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Promotora de Justiça Belize Câmara.
No que diz respeito às comunidades afetadas pela operação do parque Ventos de Santa Brígida, ela apontou que existe um plano de mitigação e reparação de danos formulado pela CPRH após escuta da população. O plano foi submetido à empresa, que deverá se manifestar sobre as medidas orientadas pela agência ambiental. Já a empresa responsável pelo Ventos de São Clemente não encaminhou nenhuma resposta sobre os problemas causados pela sua operação.
“Porém, na reunião de hoje, ficou patente que há necessidade de dois acordos: um de caráter mais emergencial, para garantir o cuidado com a saúde, alimentação e acesso à água dos moradores afetados; e um outro consenso para mais adiante, que seriam indenizações e realocações dessas comunidades”, acrescentou.
Já a secretária estadual de Meio Ambiente, Sustentabilidade de Fernando de Noronha, Ana Luiza Ferreira, relembrou que a operação da Ventos de São Clemente foi interrompida em decorrência do indeferimento da renovação da licença desse empreendimento, que foi a principal reivindicação popular da semana anterior. Ela também salientou a importância de se buscar uma solução consensuada para o impasse, tendo em vista que essa abordagem é mais célere do que recorrer à judicialização.
Representante de uma comunidade de agricultores assentados afetada pela operação de uma linha de transmissão em Tracunhaém, Nzinga Cavalcante informou que as comunidades exigem informações objetivas, para que as pessoas possam indicar as providências mais adequadas.
“Eu trago essa necessidade de nos ouvir, porque as empresas deveriam fazer o processo mitigatório, mas não fazem. Esses megaempreendimentos vão até nossas comunidades, cometem diversos crimes e saem ilesos, trazendo problemas de saúde para as pessoas e para os animais e infertilidade para o solo. Por isso é necessário que essa conversa seja com os povos que já estão sendo atingidos, para a gente dizer o que não aceita mais, falar e mostrar o que está nos afetando”, resumiu.
10/06/2025
MPPE promove debate sobre direito a acompanhantes em serviços de saúde
10/06/2025 - O Ministério Público de Pernambuco (MPPE) realizou, nesta segunda-feira (9), o seminário “Direito ao acompanhamento em serviços de saúde públicos e privados para Pessoa Idosa, Mulheres e Pessoa com Deficiência: direitos, responsabilidades e limites”. O evento, que aconteceu em formato híbrido no auditório da Escola Superior do Ministério Público de Pernambuco (ESMP) e com transmissão simultânea via Google Meet/YouTube, reuniu membros e servidores do MPPE, além de profissionais das redes de saúde e assistência social.
Com o objetivo de aprofundar o debate sobre o direito ao acompanhamento como um direito fundamental, e não meramente uma obrigação legal, o seminário buscou analisar as condições e os limites dessa prerrogativa. A iniciativa também visou fomentar a reflexão sobre as responsabilidades e alternativas para assegurar o acompanhamento necessário, combatendo atitudes discriminatórias nos serviços de saúde.
A mesa de abertura contou com a presença de Carolina de Moura, diretora da ESMP; Irene Cardoso, Promotora de Justiça e coordenadora do Núcleo da Pessoa Idosa; Liliane Rocha, Procuradora de Justiça e coordenadora do CAO Consumidor; Helena Capela, Promotora de Justiça e coordenadora do CAO Saúde; Dalva Cabral, Promotora de Justiça e coordenadora do Núcleo da Pessoa com Deficiência; Maísa Oliveira, Promotora de Justiça e coordenadora do Núcleo da Mulher; e Maria José Mendonça, Promotora de Justiça e coordenadora do Núcleo LGBT+.
Na sequência, a mesa “Direito à acompanhante: principais desafios sob a perspectiva do Ministério Público” trouxe à tona questões cruciais. Liliane Rocha destacou o acompanhante como parte integrante do direito do paciente, inclusive na rede privada, e a necessidade de fiscalização do MPPE. Maísa Oliveira abordou a importância do acompanhante da mulher para prevenir violência obstétrica, sexual e negligências, além de oferecer suporte emocional. Rosane Moreira Cavalcanti, Promotora de Justiça em Petrolina, expôs os desafios de pessoas vulneráveis sem condições de manter acompanhantes permanentes, ressaltando a responsabilidade dos hospitais em garantir cuidados básicos.
Já a mesa “Co-responsabilidade do Estado e da família na garantia do suporte de cuidados em situações de exames, internação e institucionalização” complementou o debate. Kylvia Martins, do Hospital Eduardo Campos da Pessoa Idosa, detalhou os direitos e dificuldades dos idosos internados, inclusive superação da falta da família e de integração de novas formas de acompanhamento. Manoel Augusto Oliveira de Aguiar, consultor de acessibilidade, enfatizou a singularidade das internações de pessoas com deficiência e a importância de garantir inclusão e cidadania. Sandra Valongueiro, do Comitê Estadual de Mortalidade Materna, discutiu a humanização do parto e a relevância do acompanhante durante e pós-parto, incluindo o pai da criança.
As contribuições colhidas durante o seminário servirão para elaborar uma nota técnica pelos órgãos ministeriais participantes. A nota orientará a atuação de Promotores e Promotoras de Justiça em todo o Estado.
O evento foi uma realização conjunta da ESMP, Núcleo da Pessoa Idosa, Núcleo da Pessoa com Deficiência, Núcleo de Apoio à Mulher e CAO Saúde.